Vivemos em um universo paralelo?
O espaço e o tempo que podemos observar constituem a única realidade?
O conceito de multiverso surgiu quando teorias científicas modernas começaram a explorar a possibilidade da existência de outros universos. Esse termo é frequentemente usado para expressar a ideia de que, além do universo que podemos observar, podem existir outros.
O tema também ganhou destaque no cinema, como no filme “Tudo em o Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert, que conta a história de Evelyn (Michelle Yeoh), uma imigrante chinesa lidando com seus problemas pessoais e financeiros ao viajar entre suas infinitas versões. Outro exemplo é o sucesso da Marvel, “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, lançado em 2022.
Mas o que a ciência tem a dizer sobre isso?
Diferentes teorias científicas sugerem que o espaço e o tempo que percebemos não representam a única realidade. “A realidade existe independentemente de nós”, como afirma Andrei Linde, físico da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Mas o que a ciência diz a respeito?
Segundo diferentes teorias científicas, o espaço e o tempo que podemos observar não representam a única realidade. “A realidade existe independentemente de nós”, conforme afirma o físico da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Andrei Linde.
E se, em algum lugar, em um universo paralelo semelhante ao nosso, uma versão de nós mesmos estivesse vivenciando uma vida totalmente diferente, em um mundo repleto de infinitas possibilidades?
Elijah Dunn
Essa possibilidade é viável de acordo com algumas hipóteses sobre a matemática do universo, as quais sugerem que, se há a chance de algo ocorrer, então isso realmente acontecerá.
Na prática, isso significa que cada escolha possível em nossas vidas pode se tornar realidade. Para que todas essas infinitas possibilidades se concretizem, seria necessário a existência de universos infinitos.
O início de tudo a partir do nada
A última pesquisa do físico Stephen Hawking, publicada no Journal of High Energy Physics, sugere que nosso universo pode ser apenas um entre muitos outros semelhantes.
Essa teoria oferece uma solução para o paradoxo cósmico proposto pelo próprio Hawking, apontando para uma possível pista na busca por indícios da existência de universos paralelos.
Em 1980, junto com o físico americano James Hartle, Hawking desenvolveu uma nova ideia sobre o início do Universo, utilizando a mecânica quântica para explicar como o Universo poderia ter surgido do nada.
À medida que os cientistas aprimoraram essa ideia, chegaram à hipótese de que, a partir do Big Bang, o Universo se formou como um vasto e complexo holograma, permitindo a existência de outros universos muito semelhantes ao nosso.
Conforme a teoria Hartle-Hawking, alguns desses universos seriam bastante parecidos com o nosso, enquanto outros teriam diferenças específicas, como uma Terra onde os dinossauros não foram extintos, por exemplo. Embora possa parecer improvável, as equações elaboradas nessa teoria tornam esses cenários possíveis.
Cosmologia inflacionária
O trabalho final de Hawking resultou de uma pesquisa de 20 anos, em que a equipe utilizou novas técnicas matemáticas para explorar a Teoria das Cordas, uma tentativa de unificar a Teoria da Relatividade de Einstein e a Mecânica Quântica.
Possivelmente, a ideia cientificamente mais aceita que surgiu desse trabalho é conhecida como cosmologia inflacionária, considerada um multiverso de Nível 2. Segundo essa concepção, momentos após o Big Bang, o universo expandiu-se rapidamente e de maneira exponencial.
A inflação cósmica explica várias propriedades observadas do universo, como sua estrutura e a distribuição das galáxias. Uma previsão dessa teoria é que a inflação pode ter ocorrido repetidamente, talvez infinitamente, criando uma constelação de universos-bolha.
Durante essa expansão, algumas áreas continuaram a inflar, enquanto outras pararam completamente, formando bolhas de espaço estático. Assim, o universo seria composto por diversas bolhas, configurando um multiverso.
No entanto, nem todas essas bolhas teriam as mesmas propriedades que as nossas; algumas podem representar espaços onde a física se comporta de maneira diferente, mas todas existem além do que podemos observar diretamente.
Dessa forma, o Multiverso de Nível 2 seria um conjunto de universos incomunicáveis, cada um deles infinito, apesar de ocupar um espaço finito quando visto externamente.
Muitos especialistas veem essa teoria como uma sugestão promissora para resolver vários outros enigmas.
Mas quais são os outros conceitos que se aplicam em torno do multiverso?
Existe uma teoria alternativa que está ganhando cada vez mais atenção, chamada de Interpretação dos Muitos Mundos, proposta por Hugh Everett em 1957.
De acordo com Everett, a onda quântica nunca entra em colapso. Todas as possibilidades de localização da partícula são igualmente verdadeiras, resultando em uma infinidade de bifurcações quânticas a cada instante.
Cada bifurcação dá origem a um universo paralelo, onde diferentes cenários se desenrolam em realidades ramificadas. Essa hipótese, popular na ficção científica, está diretamente relacionada à mecânica quântica. Segundo ela, existem inúmeras versões de você mesmo, cada uma vivendo em um universo diferente.
Cada decisão que você toma cria um universo paralelo, onde uma versão alternativa de você tomou a decisão oposta. Esse conjunto de todos esses universos paralelos quânticos é conhecido como Espaço Hilbert ou Multiverso de Nível 3.
A Interpretação de Copenhague, proposta por Niels Bohr e Werner Heisenberg, é a mais conhecida na mecânica quântica até agora. Essa teoria afirma que o observador influencia como um evento é percebido.
Antes de ser observada, cada partícula se comporta como uma onda, podendo estar em vários lugares ao mesmo tempo. Ao ser observada, ela colapsa para um único local.
No famoso experimento do gato de Schrödinger, a interpretação de Copenhague sugere que o gato está em um estado de sobreposição quântica, vivo e morto ao mesmo tempo, até que a caixa seja aberta. Na interpretação de Everett, o universo se divide em dois, com o gato vivo em um universo e morto em outro. Após a separação, cada universo continua seu caminho sem interação.
Tá, mas e aí?
Toda a discussão em torno de universos paralelos ainda está sujeita a extensas pesquisas e estudos, e talvez ainda não possa redefinir completamente o conceito de realidade. No entanto, essas ideias todas servem para questionar nossa percepção do que é real. Afinal, a realidade observada por um indivíduo pode ser diferente daquela percebida por outro.
Até aqui todos concordamos, certo?