Seria a Noosfera um prelúdio do que é a internet hoje?
O conceito da Noosfera antecipou a conectividade global proporcionada pela internet
Em 1938, o francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) abordou a existência de um “tecido vivo de consciência” em seu livro “The Phenomenon of Man”, referindo-se à Noosfera que envolve a Terra.
Curiosamente, o termo ‘noosfera’ não foi cunhado por Teilhard. A autoria desse conceito é atribuída a Vladimir Ivanovich Vernadsky (1863-1945), um geoquímico russo. Vernadsky propôs a ideia de uma sucessão de fases na evolução da Terra, começando pela Geosfera (matéria inanimada), passando para a Biosfera (vida biológica) e culminando em sua terceira fase, a Noosfera (vida inteligente).
Na teoria original de Vernadsky, assim como o surgimento da vida transformou a geosfera e o surgimento da cognição humana transformou a vida, a Noosfera representava uma esfera de influência da inteligência sobre a evolução do planeta.
Seria a Noosfera um prenuncio da nossa internet?
A visão de Teilhard de Chardin sobre a Noosfera, como a soma de todas as interações mentais de seres vivos, pode ser vista como uma previsão vaga da internet décadas depois. Donald Dulchinos, em “Neurosphere: The Convergence of Evolution, Group Mind, and the Internet”, argumenta que a World Wide Web atua como um sistema nervoso central para o planeta.
Dulchinos destaca que o impacto da Internet vai além do hype comercial, influenciando significativamente nossas vidas sociais e pessoais ao se tornar onipresente. Ele sugere que a Internet transformará aspectos essenciais da humanidade, como comunicação, cooperação, pensamento e busca por significado.
Muitos especialistas e filósofos veem a internet como a materialização da Noosfera de Teilhard de Chardin. Conforme a internet se desenvolvia, pontos específicos de suas obras começaram a ressoar, incluindo a ideia de convergência cultural como característica-chave para o processo evolutivo da humanidade.
Teilhard de Chardin concebia essa convergência cultural transcendentando modalidades anatômicas, espalhando-se para zonas da espontaneidade psíquica, individual e coletiva. Essa convergência ocorreria na última camada social, integrando tradições e memória coletiva, marcando o início da unidade mental da humanidade, um princípio fundamental da Noosfera. Assim, a visão de Teilhard de Chardin pode ser interpretada como antecipando a conectividade global proporcionada pela internet.
O ser humano como co-criador do universo
A visão de Barbara Marx Hubbard (1929-2019) sobre a formação de uma esfera de consciência ao redor da Terra, alinhada à ideia de Teilhard de Chardin sobre a Noosfera, reflete uma perspectiva otimista sobre o papel transformador da consciência humana.
Barbara Marx Hubbard foi uma futurista e embaixadora das ideias de Teilhard, foi uma notável pensadora e ativista dedicada a promover uma visão evolutiva e consciente para a humanidade, defendendo o conceito de “Agente de Mudança Universal”, incentivando as pessoas a reconhecerem seu papel ativo na co-criação de um futuro positivo.
Ela acreditava que a humanidade estava à beira de uma encruzilhada evolutiva, destacando a necessidade de uma mudança fundamental em nosso comportamento para evitar a autodestruição. Alertava sobre os perigos dos padrões inconscientes de conflito, superpopulação e poluição, defendendo a escolha consciente de colaborar com os sistemas da Terra. Propunha a transição para um estado de colaboração consciente, vislumbrando um “caminho gentil” para a humanidade, no qual compreendemos nosso propósito, poder e evoluímos de maneira relativamente suave para o próximo estágio de nossa existência.
Embora essa visão possa ser interpretada como positivista, ela também ressalta a necessidade de uma mudança profunda na consciência coletiva. A ideia do “caminho gentil” sugere a possibilidade de uma transição positiva, mas a implementação prática desses ideais depende da vontade coletiva e do engajamento em níveis individuais e sociais.
Nos dias de hoje, a discussão sobre esse despertar de consciência e a transição para um modo de vida mais sustentável tem ganhado espaço na sociedade. No entanto, como você aponta, é difícil prever o alcance e o impacto dessas ideias, especialmente em termos de liderança e políticas. O desafio está em traduzir essas visões otimistas em ações concretas que promovam a colaboração consciente e a sustentabilidade. Que assim seja!